Eles custam caro, prometem saúde instantânea e viraram o novo símbolo de status entre as elites wellness. Mas será que o smoothie é mesmo tudo isso?
Nas vitrines dos cafés mais exclusivos e nos stories das influenciadoras mais seguidas, eles estão por toda parte: copos minimalistas, cores vibrantes e nomes cheios de propósito — green boost, sunrise energy, skin glow. O smoothie virou o novo acessório de luxo da geração wellness.
Por trás dessa estética sofisticada, há uma mensagem poderosa (e perigosa): a de que saúde cabe num copo de R$ 60. A bebida que antes era símbolo de nutrição prática, agora representa um estilo de vida e um passaporte para o seleto clube dos “saudáveis de aparência”.
A cultura do smoothie reflete a lógica do falso fit: o consumo de saúde como status. Segundo dados recentes da consultoria Mintel, o mercado global de bebidas funcionais ultrapassou US$ 200 bilhões em 2024, com crescimento impulsionado pela busca por “alimentos inteligentes”.
No Brasil, esse movimento se traduz na explosão de marcas que vendem superalimentos em pó, shots matinais e smoothies “premium”, muitos deles com promessas quase místicas — detox instantâneo, foco mental, rejuvenescimento celular.
Mas será que tudo isso é real?
A resposta é: nem sempre.
Grande parte desses produtos contém quantidades mínimas de ingredientes ativos, misturadas a bases de frutas ultraprocessadas e açúcares escondidos sob nomes técnicos. O resultado é um marketing brilhante, embalado com slogans de ciência, mas distante da saúde verdadeira.
O perigo não está no smoothie em si e sim na narrativa de atalho que ele representa. A ideia de que basta consumir algo “natural e caro” para compensar o que não se constrói com constância: boas noites de sono, alimentação de verdade e movimento diário.
Como médico, vejo pacientes fascinados por rótulos e nomes sofisticados: ashwagandha, spirulina, blue majik, matcha ceremonial grade. Todos têm benefícios, sim — mas isolados, não fazem milagres.
O que transforma não é o pó azul que vem do Havaí. É o hábito, o contexto e a coerência com um estilo de vida equilibrado.
Os smoothies viraram o espelho do novo luxo: o luxo da aparência. O copo bonito na mão substitui o silêncio de quem dorme bem, se alimenta com comida de verdade e não precisa provar nada pra ninguém.
Talvez a saúde, a real, esteja justamente no que não dá pra vender.
No simples. No sono profundo. No treino sem câmera.
Porque o verdadeiro wellness não tem rótulo. Tem constância.
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