Um projeto interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) está abrindo um novo caminho para o diagnóstico precoce do câncer bucal.
Pesquisadores das áreas de Odontologia e Informática trabalham juntos no desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial capaz de identificar sinais muito iniciais da doença, antes mesmo do surgimento de lesões visíveis, um avanço que pode aumentar de forma significativa as chances de tratamento e cura.
Prevenção focada em grupos de risco
A proposta do estudo é clara: sair da lógica reativa e avançar para o rastreamento preventivo. O foco está em grupos com maior probabilidade de desenvolver câncer bucal, especialmente pessoas com histórico de consumo de tabaco e álcool, fatores reconhecidos como os principais gatilhos da doença.
O processo começa com a coleta de fluidos da cavidade oral dos pacientes, seguida de um acompanhamento ao longo do tempo. Hoje, esse tipo de análise celular costuma ser feito de forma manual, por especialistas observando amostras ao microscópio, um método preciso, porém lento, caro e difícil de escalar.
IA para acelerar e escalar o diagnóstico
É aí que entra a inteligência artificial. O sistema em desenvolvimento é treinado para analisar imagens de células da boca e identificar alterações sutis no núcleo celular, como mudanças de forma, coloração e crescimento de estruturas internas, sinais associados a um maior risco de desenvolvimento do câncer.
Ao automatizar essa leitura, a tecnologia substitui a inspeção visual manual por uma análise de alta velocidade, capaz de processar grandes volumes de dados em pouco tempo. Na prática, isso torna o rastreamento mais rápido, mais acessível e muito mais escalável, algo essencial para aplicações em larga escala no sistema de saúde.
Um exame complementar, não substitutivo
Os pesquisadores reforçam que a tecnologia não pretende substituir exames clínicos definitivos, como a biópsia. O papel da IA é atuar como um exame complementar, ajudando a estratificar o risco dos pacientes e indicar quem deve ser acompanhado mais de perto.
Ao estabelecer valores de referência e padrões celulares associados à predisposição à doença, o sistema pode sinalizar riscos ainda invisíveis ao exame clínico tradicional, antecipando decisões médicas e intervenções preventivas.
Validação a longo prazo e impacto no SUS
Por se tratar de uma pesquisa acadêmica longitudinal, o projeto exige anos de acompanhamento para validar os padrões identificados pela inteligência artificial. A estimativa dos pesquisadores é de cerca de 10 anos para a conclusão e validação completa do sistema.
A expectativa, no entanto, é ambiciosa: após validada, a tecnologia poderá ser incorporada à rede pública de saúde, ampliando o acesso ao diagnóstico precoce do câncer bucal no Brasil. Se bem-sucedido, o projeto reforça um movimento cada vez mais forte na saúde: usar tecnologia não apenas para tratar doenças, mas para antecipá-las.
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