Você acorda cedo, toma um shot de cúrcuma com glutamina, corre 5 km com seu Garmin novo e mergulha numa banheira de gelo. Não por obrigação médica, mas porque viu no story da sua influencer favorita. Bem-vinda à era do wellness performático — onde o corpo saudável virou uma nova forma de ostentação.
De suplementos premium à protocolos de biohacking, o bem-estar deixou de ser cuidado e virou status. Ser “fitness” hoje é um jeito de dizer quem você é, quanto você ganha, com quem você anda — e, acima de tudo, quem você não quer parecer.
Segundo o Global Wellness Institute, o Brasil já movimenta mais de US$ 111 bilhões com o ecossistema de bem-estar, sendo o maior mercado da América Latina. Globalmente, o setor já ultrapassou os US$ 5,6 trilhões. Mas a pergunta é: estamos ficando mais saudáveis — ou só queremos parecer saudáveis?
Não é mais no camarote que se ostenta status, mas sim no esporte que pratica, as roupas de treino que usa, a academia que treina, a sauna, a banheira de gelo, o label do suplemento que usa, os trainning clubs que frequenta… São todos marcadores de um “estilo de vida superior” — com um sentimento e status de pertencimento. Zygmunt Bauman dizia que vivemos tempos líquidos: tudo escorre, nada é fixo, e até nossas identidades precisam ser constantemente atualizadas. Nesse contexto, o corpo saudável e o lifestyle wellness se tornaram bens simbólicos de valor — um jeito de dizer ao mundo “eu me controlo, eu me importo, eu pertenço”.
O que antes era status por meio de posses (carro, roupa, imóvel), hoje é sinalizado por protocolos de gelo, suplementos caros e roupas de academia minimalistas. É o corpo que agora 2 carrega o capital social. E pertencer, no universo wellness, é parecer equilibrado — mesmo que por dentro tudo esteja desmoronando.
O sociólogo Michel Foucault dizia que o corpo é onde o poder atua de forma sutil, por meio de normas e discursos sociais. Práticas de treino e autocuidado no universo wellness refletem essa ideia, moldando corpos disciplinados.
Não por imposição, mas por alinhamento com os valores da nossa época.
Comer bem, treinar, dormir 8h e cuidar da saúde mental exige organização, investimento financeiro e tempo.
A rotina wellness, como vemos nas redes, envolve escolhas que nem sempre estão disponíveis para todos. Hoje, mais do que ser saudável, muitos buscam comunicar disciplina — porque o bem-estar também se tornou uma forma de expressão de autoridade.
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