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Pílula anticoncepcional masculina supera testes iniciais em humanos

Um marco importante acaba de ser atingido no desenvolvimento de métodos contraceptivos masculinos: a pílula YCT-529, primeira do tipo oral e não hormonal, foi considerada segura para uso humano após um ensaio clínico de fase 1. A novidade pode transformar o cenário da contracepção, historicamente centrado nas mulheres e abrir caminho para uma divisão mais equilibrada da responsabilidade reprodutiva.

Desenvolvida pela YourChoice Therapeutics, a YCT-529 funciona de forma inovadora: bloqueia um receptor da vitamina A essencial para o início da produção de espermatozoides nos testículos, interrompendo temporariamente a fertilidade sem alterar os níveis de testosterona. Diferente das alternativas hormonais, a abordagem tem potencial para evitar efeitos colaterais como alterações de libido, humor ou função sexual.

Nos testes com animais, a pílula apresentou 99% de eficácia na prevenção de gravidez e reversão completa da fertilidade após a interrupção do uso. Agora, os primeiros resultados em humanos também são promissores: nenhum efeito adverso grave foi registrado entre os 16 participantes que passaram por vasectomia, escolha feita como medida de segurança, já que a eficácia contraceptiva ainda não foi avaliada nesta fase inicial.

O estudo testou diferentes dosagens da pílula de 10 a 180 mg e indicou boa tolerabilidade e absorção pelo organismo, com meia-vida de dois a três dias no sangue, sugerindo que uma dose diária pode ser suficiente. Novos testes vão avaliar a eficácia real na redução dos espermatozoides e definir a dose ideal.

A endocrinologista Stephanie Page, que não participou do estudo mas há décadas pesquisa métodos contraceptivos para homens, destaca a importância da descoberta: “Precisamos urgentemente de mais métodos reversíveis voltados ao público masculino.”

Mercado historicamente desequilibrado

Quando se fala em contracepção, a assimetria é evidente: enquanto mulheres contam com pílulas, injeções, implantes e dispositivos intrauterinos, os homens só dispõem de preservativos e vasectomias, métodos com limitações importantes.

Há décadas, pesquisadores tentam ampliar essas opções, mas os avanços sempre esbarraram em desafios técnicos, biológicos e regulatórios. Agora, esse cenário começa a mudar: vários métodos masculinos reversíveis estão em fase de testes clínicos, entre eles o gel hormonal NES/T, aplicado diariamente na pele, e o implante de hidrogel ADAM, que atua como uma vasectomia reversível.

Segundo Page, o NES/T já concluiu um teste de fase 2 e deve avançar em breve para a etapa final antes da possível aprovação. Diferente da YCT-529, o NES/T usa uma combinação de progesterona e testosterona para interromper a produção de espermatozoides por via hormonal.

Ambos os métodos, tanto a pílula quanto o gel, levam cerca de três meses para se tornarem eficazes, tempo necessário para interromper o ciclo completo da espermatogênese. Após a suspensão do uso, a fertilidade tende a retornar no mesmo período.

Demanda crescente por mais autonomia

Estudos recentes reforçam o interesse masculino por novas opções contraceptivas: uma pesquisa de 2023 mostrou que 75% dos homens entrevistados nos EUA e Canadá estariam dispostos a experimentar novos métodos. Já um relatório de 2019 revelou que quase 50% dos homens americanos sexualmente ativos entre 18 e 49 anos estavam “muito interessados” em ter mais controle sobre a contracepção.

Ainda há um longo caminho até que pílulas como a YCT-529 estejam disponíveis no mercado, mas os avanços recentes sinalizam uma revolução silenciosa, uma mudança significativa no equilíbrio de gênero na saúde reprodutiva, que há tempos era esperada.

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