Um hormônio cercado de mitos, riscos e evidências que precisam ser traduzidas para a vida real.
A testosterona, geralmente associada ao universo masculino, também é fundamental para a saúde da mulher. Ela influencia energia, massa muscular, bem-estar, libido e até funções cognitivas. Porém, quando se fala em reposição hormonal feminina, o tema costuma vir carregado de promessas exageradas, tabus e até riscos mal compreendidos.
O primeiro ponto importante é: não existe um “exame de sangue milagroso” capaz de definir quem precisa de testosterona. De acordo com consensos internacionais, os níveis séricos não devem ser usados para diagnosticar disfunção sexual, mas apenas para identificar o uso excessivo.
Isso porque os exames comuns, chamados de imunoensaios diretos, carecem de precisão para as dosagens usualmente baixas encontradas em mulheres. Por isso, se algum médico te disse que a indicação de reposição da testosterona é o exame mostrando níveis baixos, desconfie! Ele no mínimo está desinformado e provavelmente está mal-intencionado.
O que já sabemos (e o que ainda é especulação)
Hoje, a única indicação com evidência científica robusta para o uso de testosterona em mulheres é o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo. Fora desse contexto, a reposição se torna experimental, sem comprovação de relação risco/benefício satisfatória, embora muitas vezes seja vendida no mercado fitness como solução rápida para ganho de massa magra, energia ou emagrecimento.
Nos últimos anos, novos estudos vêm investigando o papel da testosterona no humor, na memória e na cognição. Há indícios de que reposição do hormônio possa reduzir depressão e melhorar o desempenho cognitivo em mulheres no pós-menopausa. Contudo, esses dados ainda são preliminares e não justificam a prescrição ampla da testosterona com essa finalidade.
Para prevenção da osteoporose, os protagonistas continuam sendo estrogênio, vitamina D, cálcio e atividade física. A Nandrolona, um anabolizante da mesma família da testosterona, pode aumentar densidade mineral óssea e reduzir fraturas em mulheres idosas com osteoporose. Ainda assim, o risco de efeitos adversos (como engrossamento da voz, alterações de pele, hipertensão e danos cardíacos) limita seu uso.
Além disso, pesquisas apontam que a reposição de testosterona seja uma opção para o tratamento da sarcopenia (perda de massa e força muscular). Entretanto, os riscos desse uso podem não justificar sua prescrição em muitos casos. De fato, a literatura descreve alterações no colesterol (como aumento do LDL), além de potencial elevação do risco cardiovascular, incluindo infarto, trombose e AVC. Esses efeitos podem não acontecer em todas as mulheres, mas exigem cautela e acompanhamento rigoroso.
Quando bem indicada, a reposição deve seguir critérios de segurança: preferência por formulações transdérmicas (adesivos ou géis, que reduzem riscos hepáticos), avaliação individual de pressão arterial, perfil lipídico e risco cardiovascular, além de monitorização periódica da função hepática.
Em resumo, a reposição de testosterona em mulheres não é “vilã”, mas tampouco pode ser banalizada. O que se sabe até hoje é que seu uso deve ser restrito, monitorado e sempre em nome de qualidade de vida — não de promessas de performance supra-natural. O futuro pode trazer novos horizontes no campo do humor, da cognição e do envelhecimento saudável, mas essa ainda não é a realidade para todas as mulheres.
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